sexta-feira, 12 de setembro de 2008

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da Globalização. São Paulo: Editora SENAC, 2001

Capítulos: 1 a 3 ( páginas 1 a 40 )

Ao ler a primeiras quarenta páginas do livro O Brasil e o dilema da globalização tem-se uma visão histórica processo da globalização. Segundo Ricupero, o processo de integração econômica, que hoje recebe o nome de globalização, não é recente e para sustentar tal afirmação ele reporta-se ao evento das grandes navegações (século XV e começo do século XVI).
Ao deslocar seu olhar para esse episódio, o autor nos faz entender que a "descoberta" de novos "mundos" fazia parte de uma estrutura econômica que visava integrar novas terras, produtos e riquezas à balança comercial dos países centrais, ou seja, das metrópoles. Movidos pela ideologia do Mercantilismo, a integração dos países era um processo inexorável. Dessa forma, países como Brasil, Argentina, México (hoje países emergentes) e Estados Unidos, Canadá e Austrália (países centrais do Capitalismo) adentraram no processo de integração econômica.
Certo é que essa integração, esse processo de inserção, não se deu da mesma forma. Assim podemos observar dois os modelos de integração: um que visava implantação de "colônias de exploração" e outro, implantação de "colônias de povoamento" ( RICUPERO 2001: 13-14). Daí resultou a classificação de países em pleno desenvolvimento e países em vias de desenvolvimento.
Baseando-se nesses processos integracionalistas, ocorridos desde a navegação, o autor chega à variedade de inserção virtuosa na contemporaneidade, fazendo-nos entender que o desenvolvimento econômico mais ou menos pleno pode ser justificado a partir das grandes navegações. E hoje, esse processo tem nova velocidade, em virtude das novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados e da transformação da microeletrônica. As variedades de inserção virtuosas são superiores na capacidade de produzir desenvolvimento econômico sustentado (RICUPERO, 2001:19)
Para RICUPERO esse corte cronológico é importante para entendermos que o processo de globalização, hoje amplamente debatido, repete idéias integracionistas antigas, mas com novos caracteres, quais seja uma velocidade de integração sem precedentes e uma aproximação, uma redução substancial da distância entre países também inédita na história. É isso que dá contorno original no processo da globalização.
A partir desse ponto, o autor começa a caracterizar o fenômeno da globalização. Para muitos, esse termo tem sido usado para expressar uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que expressam o espírito e a etapa de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra atualmente.
Nesse contexto, a ordem econômica é determinada pelas corporações mundiais e blocos econômicos (União Européia (EU), Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), e pelas instituições financeiras internacionais. O discurso e o projeto neoliberal criaram as condições para o impulso e a efetivação da Globalização. Assim, podemos dizer que a globalização pressupõe a submissão a uma racionalidade econômica baseada no mercado global competitivo e auto regulável.
As corporações procuram no mundo (dispersão geográfica) as condições para investimento na produção e na comercialização de mercadorias (busca de mercados), em razão do aumento da competitividade e do estreitamento da margem de lucro. O resultado dessas transferências de operações é a perda de identidade nacional das mercadorias, do capital e das tecnologias, com a conseqüente criação de um sistema de produção global que universaliza necessidades, gostos, hábitos, desejos e prazeres. Assim, o mundo transforma-se cada vez mais em uma fábrica e em um shopping Center global.
A preocupação de RICUPERO é com a perda de identidade nacional ocasionada pela globalização econômica, que também alcança o mercado de trabalho. O trabalho se dispersa, dessindicaliza-se. Por um lado exige-se a qualificação do trabalhador, aumenta-se a necessidade de treinamento e de aprendizagem permanente e coloca-se o trabalhador como co-responsável no processo produtivo. Nota-se criação de regimes e de contratos mais flexíveis bem como o estabelecimento de política salarial flexível, o crescimento da economia informa novas estratégias de sobrevivência. Por paradoxal que possa parecer isso torna o trabalho cada vez mais escasso, apesar de seu caráter ainda altamente nacional e cria uma tensão no novo processo produtivo.
Essas manifestações do processo de globalização e também as transformações econômicas associadas à revolução tecnológica faz com que o capital circule com maior velocidade, aportando em portos nos quais se promete maior rentabilidade. Daí o surgimento do capital puramente especulativo, que viaja rapidamente de forma fluida e fugaz, vendendo ilusão de sustentabilidade econômica.


Resumo da matéria
Bolsa acumula perda de 24% no ano
Folha de São Paulo, 10 de setembro de 2008

A notícia relata a queda das bolsas generalizada pelo mundo. Esse fato surpreendeu o mercado econômico que se encontrava aliviado depois do governo Bush ter socorrido as duas maiores empresas hipotecárias dos EUA (Fannie Mae e Freddie Mac).
Os mercados refletiram o temor de quebra do banco norte-americano Lehman Brohers. Diante de tantas incertezas, ordenou-se aos mercados que liquidassem posições de maior risco. Essa decisão atingiu países emergentes como o Brasil, uma vez que a venda de ações e ativos brasileiros por estrangeiros se acelerou. Nesse cenário de queda, estrangeiros fundamentais para a Bovespa não têm hesitado em vender ações como Petrobras e Vale. Em Nova York os ADR (recibos de ações de estrangeiros) da Petrobras perderam 10,6%; os da Vale caíram 6,9%. Segundo Georges Sanders, gestor de renda variável, nesse ambiente econômico desastroso, o fluxo de recursos para Brasil é praticamente zero.


Análise crítica da matéria baseada no conteúdo do livro

Os fatos relatados na matéria lida corroboram as afirmações de RICUPERO no que diz respeito aos feitos benéficos e aos prejuízos ocasionados pela integração econômica. Com certeza as novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados fizeram com que o mercado global tomasse conhecimento do risco que representava queda das bolsas e instantaneamente novas decisões foram tomadas, obrigando um reposicionamento dos investidores no mundo inteiro. RICUPERO no seu livro chama isso de fluidez do capital, ou seja, o capital especulativo que viaja rapidamente, de forma fluida e fugaz , vendendo a ilusão de sustentabilidade econômica. Sustenta ainda RICUPERO, que nesse mercado globalizado o capital circula com maior velocidade, mas aporta em portos nos quais se promete maior rentabilidade.
No caso da queda das bolsas, o prejuízo é para todos, uma vez que bancos, fundos de investimentos, seguradoras, companhias hipotecárias refletem o medo de emprestar mais e perder mais. A frustração dos investidores é percebida em escala global e países emergentes como o Brasil não só sentem essa euforia mercadológica como também já acumula prejuízos.

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