sexta-feira, 26 de setembro de 2008

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da Globalização. São Paulo: Editora SENAC, 2001

Capítulo 3 e 4 (página 40 a 80)

Segundo o autor, há inúmeros mitos do processo de globalização. Ricupero aborda alguns para que se possa desvencilhar deles e chegarmos ao modelo de Estado que melhor atende aos anseios de uma globalização eficiente, que possa aproveitar os benesses do processo inédito de integração, almejando reduzir os riscos dos abalos econômicos que a globalização também acarreta.
[...] "justamente por isso não pode haver figurino único para todos os tamanhos e características de Estado. O que existe são modelos que, embora guardem um fundo comum de coerência com os problemas atuais, permitem acomodar as particularidades desse Estado na busca do desenvolvimento e da integração à economia mundial" (RICUPERO 2001:58)

Um dos mitos diz respeito ao movimento econômico registrado nos anos noventa. Ricupero entende que a economia mundial não repetirá dois movimentos de extrema importância naquela década: o alto fluxo de investimento externo para os países latino-americanos e o forte aumento do comércio global. Esses movimentos foram condicionados pela renegociação da dívida externa por meio do Plano Brady e pelo processo de privatização.
Além disso não se repetirá a forte abertura das economias em desenvolvimento que foi um dos principais fatores de expansão do comércio no ano de 2000.
Antes de falarmos do segundo mito, Ricupero busca uma definição mais exata da terminologia "empresas transnacionais" de forma a diferenciá-las das "empresas multinacionais". Embora o termo multinacionais tenha se consagrado, a ONU tem optado há anos pela expansão das empresas transnacionais. O termo multinacional conduz à falsa idéia de que são empresas de diversos países. Na verdade são empresas que possuem filiais em muitos países, mas que têm nacionalidade própria. A Nestlé opera em diversos países e isso não faz dela uma empresa menos suíça. Na esfera das multinacionais, ocorria uma verdadeiro transplante da estrutura administrativa e produtiva da empresa-sede para os países de recepção. No caso das empresas transnacionais o centro gerencial desvinculou-se da empresa, presente ainda no país de origem, para o centro produtivo, totalmente espalhado no chão de fábrica global.
Agora sim, Ricupero põe abaixo o mito de que as empresas transnacionais se ocupariam em transferir produção para países em desenvolvimento. A tendência que se observa é que haverá mudanças dessas unidades produtivas para outros países em desenvolvimento, o que terá como resultado um deslocamento do comércio, mas não o aumento do seu valor. Isso se explica ao observarmos economias como a da Malásia, Indonésia, Tailândia, tigres asiáticos, Coréia, À medida que os custos locais encarecem, com a mão de obra bem qualificada, outros países periféricos (em desenvolvimento) vão sendo incorporados ao processo produtivo global, cada vez mais transnacional. Esse processo de mudança de locais de produção, tendo em vista vantagens comparativas, pode e deve se esgotar, tal o limite em se encontrar novos portos seguros de mão de obra barata.
"A integração do processo produtivo em escala planetária não teria podido concretizar-se não fosse outra grande transformação tecnológica ( revolução nas tecnologias de informação e telecomunicação) que fez possível o planejamento, o desenho e o gerenciamento das operações produtivas a grande s distâncias, entre diferentes pontos do espaço geográfico [...]"
(RICUPERO 2001:40)

"Não faz muito tempo que a crise da Ásia do leste e do sudeste fez sair de circulação expressões que agora soam para alguns como prematuras ou exageradas, como de "dragões" ou "tigres asiáticos". Uma das vítimas mais recentes foi a Nova Zelândia, pequeno país até, ontem celebrado em prosa e verso como a mais acabada expressão do neoliberalismo puro e duro." (RICUPERO 2001: 53)


Nesse ponto, o que poderia se descortinar como benéfico para os países periféricos não o foi. É lógico que a recepção das empresas transnacionais por alguns países periféricos teve efeitos salutares na economia interna ( investimentos, otimização da produção, alta competitividade, etc.) todavia, a flexibilização nas relações trabalhistas nos moldes que pregam as transnacionais é de todo nefasta para a economia desses países. É visível que o projeto das transnacionais deixará de ser mito quando as grandes companhias auxiliarem as pequenas empresas no sentido de elas, ao invés de importarem insumos, fabricarem em seus próprios países.




Matéria: Na ONU, Lula pede controle das atividades financeiras
Jornal: Tribuna de Minas, Quarta-feira, 24 de setembro de 2008 ( Caderno Mundo paginas 7 e 10)

Diante da crise financeira mundial, que fez cair as bolsas no mundo inteiro e quebrar bancos nos EUA, o presidente Lula, ao abrir a 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), chamou a atenção para a situação dos países emergentes como Brasil e cobrou dos organismos supranacionais medidas que coibam a anarquia especulativa.
Lula disse que na economia também deve haver ética e que economia é um assunto sério demais para ficar na mãos de especuladores. O presidente observou ainda que o caráter global da crise demanda que as soluções sejam adotadas também de forma global "tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis, sem imposições."
O presidente fez um discurso repleto de duras observações sobre a crise financeira global e da ONU cobrou que se posicionasse no sentido de convocar o mundo para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós. Essas ameaças (em nível mundial) seriam: crise alimentar, energética, econômica e comercial.
Outro assunto do qual o presidente se ocupou foi a reunião que acontecerá em dezembro, a qual o Brasil sediará, sobre integração e desenvolvimento, assentada em uma perspectiva latino-americana e caribenha.


Análise crítica baseada no conteúdo do livro

A matéria está em sintonia com os pontos abordados por Ricupero, principalmente no que diz respeito à necessidade de adoção de boas políticas econômicas. Sem essa política, os surtos financeiros impedirão a formação de uma estrutura econômica confiável nos países periféricos. Parece-nos que os sinais da má política já podem ser vistos e sentido e atingiram funções vitais da economia mundial: comércio, emprego, energia, etc.
Ricupero ao longo de seu livro salienta que a globalização transcende a órbita puramente financeira e afeta sobremaneira estruturas produtivas, educação, relações institucionais, contratos entre indivíduos. Podemos dizer que é a isso que o presidente Lula se refere quando cobra ética na economia e ação vigorosa na reavaliação dos efeitos da economia global.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da Globalização. São Paulo: Editora SENAC, 2001

Capítulos: 1 a 3 ( páginas 1 a 40 )

Ao ler a primeiras quarenta páginas do livro O Brasil e o dilema da globalização tem-se uma visão histórica processo da globalização. Segundo Ricupero, o processo de integração econômica, que hoje recebe o nome de globalização, não é recente e para sustentar tal afirmação ele reporta-se ao evento das grandes navegações (século XV e começo do século XVI).
Ao deslocar seu olhar para esse episódio, o autor nos faz entender que a "descoberta" de novos "mundos" fazia parte de uma estrutura econômica que visava integrar novas terras, produtos e riquezas à balança comercial dos países centrais, ou seja, das metrópoles. Movidos pela ideologia do Mercantilismo, a integração dos países era um processo inexorável. Dessa forma, países como Brasil, Argentina, México (hoje países emergentes) e Estados Unidos, Canadá e Austrália (países centrais do Capitalismo) adentraram no processo de integração econômica.
Certo é que essa integração, esse processo de inserção, não se deu da mesma forma. Assim podemos observar dois os modelos de integração: um que visava implantação de "colônias de exploração" e outro, implantação de "colônias de povoamento" ( RICUPERO 2001: 13-14). Daí resultou a classificação de países em pleno desenvolvimento e países em vias de desenvolvimento.
Baseando-se nesses processos integracionalistas, ocorridos desde a navegação, o autor chega à variedade de inserção virtuosa na contemporaneidade, fazendo-nos entender que o desenvolvimento econômico mais ou menos pleno pode ser justificado a partir das grandes navegações. E hoje, esse processo tem nova velocidade, em virtude das novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados e da transformação da microeletrônica. As variedades de inserção virtuosas são superiores na capacidade de produzir desenvolvimento econômico sustentado (RICUPERO, 2001:19)
Para RICUPERO esse corte cronológico é importante para entendermos que o processo de globalização, hoje amplamente debatido, repete idéias integracionistas antigas, mas com novos caracteres, quais seja uma velocidade de integração sem precedentes e uma aproximação, uma redução substancial da distância entre países também inédita na história. É isso que dá contorno original no processo da globalização.
A partir desse ponto, o autor começa a caracterizar o fenômeno da globalização. Para muitos, esse termo tem sido usado para expressar uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que expressam o espírito e a etapa de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra atualmente.
Nesse contexto, a ordem econômica é determinada pelas corporações mundiais e blocos econômicos (União Européia (EU), Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), e pelas instituições financeiras internacionais. O discurso e o projeto neoliberal criaram as condições para o impulso e a efetivação da Globalização. Assim, podemos dizer que a globalização pressupõe a submissão a uma racionalidade econômica baseada no mercado global competitivo e auto regulável.
As corporações procuram no mundo (dispersão geográfica) as condições para investimento na produção e na comercialização de mercadorias (busca de mercados), em razão do aumento da competitividade e do estreitamento da margem de lucro. O resultado dessas transferências de operações é a perda de identidade nacional das mercadorias, do capital e das tecnologias, com a conseqüente criação de um sistema de produção global que universaliza necessidades, gostos, hábitos, desejos e prazeres. Assim, o mundo transforma-se cada vez mais em uma fábrica e em um shopping Center global.
A preocupação de RICUPERO é com a perda de identidade nacional ocasionada pela globalização econômica, que também alcança o mercado de trabalho. O trabalho se dispersa, dessindicaliza-se. Por um lado exige-se a qualificação do trabalhador, aumenta-se a necessidade de treinamento e de aprendizagem permanente e coloca-se o trabalhador como co-responsável no processo produtivo. Nota-se criação de regimes e de contratos mais flexíveis bem como o estabelecimento de política salarial flexível, o crescimento da economia informa novas estratégias de sobrevivência. Por paradoxal que possa parecer isso torna o trabalho cada vez mais escasso, apesar de seu caráter ainda altamente nacional e cria uma tensão no novo processo produtivo.
Essas manifestações do processo de globalização e também as transformações econômicas associadas à revolução tecnológica faz com que o capital circule com maior velocidade, aportando em portos nos quais se promete maior rentabilidade. Daí o surgimento do capital puramente especulativo, que viaja rapidamente de forma fluida e fugaz, vendendo ilusão de sustentabilidade econômica.


Resumo da matéria
Bolsa acumula perda de 24% no ano
Folha de São Paulo, 10 de setembro de 2008

A notícia relata a queda das bolsas generalizada pelo mundo. Esse fato surpreendeu o mercado econômico que se encontrava aliviado depois do governo Bush ter socorrido as duas maiores empresas hipotecárias dos EUA (Fannie Mae e Freddie Mac).
Os mercados refletiram o temor de quebra do banco norte-americano Lehman Brohers. Diante de tantas incertezas, ordenou-se aos mercados que liquidassem posições de maior risco. Essa decisão atingiu países emergentes como o Brasil, uma vez que a venda de ações e ativos brasileiros por estrangeiros se acelerou. Nesse cenário de queda, estrangeiros fundamentais para a Bovespa não têm hesitado em vender ações como Petrobras e Vale. Em Nova York os ADR (recibos de ações de estrangeiros) da Petrobras perderam 10,6%; os da Vale caíram 6,9%. Segundo Georges Sanders, gestor de renda variável, nesse ambiente econômico desastroso, o fluxo de recursos para Brasil é praticamente zero.


Análise crítica da matéria baseada no conteúdo do livro

Os fatos relatados na matéria lida corroboram as afirmações de RICUPERO no que diz respeito aos feitos benéficos e aos prejuízos ocasionados pela integração econômica. Com certeza as novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados fizeram com que o mercado global tomasse conhecimento do risco que representava queda das bolsas e instantaneamente novas decisões foram tomadas, obrigando um reposicionamento dos investidores no mundo inteiro. RICUPERO no seu livro chama isso de fluidez do capital, ou seja, o capital especulativo que viaja rapidamente, de forma fluida e fugaz , vendendo a ilusão de sustentabilidade econômica. Sustenta ainda RICUPERO, que nesse mercado globalizado o capital circula com maior velocidade, mas aporta em portos nos quais se promete maior rentabilidade.
No caso da queda das bolsas, o prejuízo é para todos, uma vez que bancos, fundos de investimentos, seguradoras, companhias hipotecárias refletem o medo de emprestar mais e perder mais. A frustração dos investidores é percebida em escala global e países emergentes como o Brasil não só sentem essa euforia mercadológica como também já acumula prejuízos.