sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da Globalização. São Paulo: Editora: Senac, 2001


Capítulos V e VI (página 80 a 102)


Ricupero nestas páginas falará da importância do comércio exterior. O autor entende que o comércio tem um papel dinamizador no mundo globalizado. Nesse sentido, percebe-se que em um extremo encontram-se os países-monstros com cifras consideradas relativamente altas, e noutro, os introvertidos e os extrovertidos. Os EUA, na intensidade comercial externa passaram de 8,41% (1970) para 19,12% (1998). Já a União Européia ostenta cifras assaz distintas conforme se inclua ou não o comércio intra-europeu, seus valores são de 15,57% ( 1970) e 20,99%
(1998). Segundo Ricupero, o contraste destes países com os introvertidos Brasil e Índia e os extrovertidos China e Indonésia é quase chocante. O autor entende que no caso do Brasil há um apreciável potencial não utilizado para a expansão do comércio exterior (Ricupero, 2001:82)
Na explicação dos fatores que concorrem para se verificar o crescimento acelerado ou não, o autor cita um estudo da ONU que argumenta que o mais importante no exame dos resultados de crescimento não é só a orientação favorável às exportações como tal, mas a natureza dessa orientação, o que ele chama de "qualidade da integração " e as oportunidades de comércio, que favorecem uma economia integrada qualitativamente: maior porcentagem de manufaturas nas vendas externas, com valor agregado mais elevado; maior diversidade de exportações; flexibilidade para responder às mudanças na demanda mundial. Assim, ao examinar a atividade aduaneira dos países de crescimento rápido , Ricupero sugere que estes compartilham as características descritas anteriormente. Outras características observáveis na história de sucesso das economias em desenvolvimento são as seguintes:
1. Agricultura: em Hong Kong e Cingapura esse setor produtivo nem aparece. Nos outros países de crescimento rápido, importadores de energia, a produção agrícola aumentou cerca 4%.
2. Coeficiente de investimento: todos os países de crescimento rápido, importadores ou exportadores de energia, tiveram índices de investimento, em relação ao PIB, bem mais elevados que os outros países em desenvolvimento.
3. Poupança interna: a taxa de poupança das economias mais velozes importadoras de energia foi de 21%; a dos exportadores; de 29%, em contraste com os exíguos 11% dos países em desenvolvimento.
4. Taxa de inflação: é uma das diferenças mais notáveis entre unidades de rápido crescimento (11%) e as de crescimento lento ( 35%).
5. Capacidade de importação: diminuiu nos países em desenvolvimento em geral, mas aumentou em 5,5%, em volume, nos de crescimento acelerado.
Ricupero reitera: a meta sempre foi adquirir a capacidade de exportar, o que assegurou às economias exposição suficiente ao choque da competição externa (RICUPERO, 2001:85).
Nessa história das grandes economias, o autor chama-nos ainda a atenção para outro ponto. Segundo ele, há em todas elas um espírito de unidade que se pode identificar em quatro aspectos fundamentais:
1. Um Estado eficaz e competente, dotado de quadros capazes de formular e executar um projeto nacional de desenvolvimento;
2. Um projeto de longo prazo, isto é, de caráter estratégico, que não se resume à correta política macroeconômica, mas abrange componente social e estratégia de competitividade tecnológica e exportadora;
3. Preocupação constante e efetiva com o combate à pobreza, o esforço de diminuir a desigualdade e promover melhor a distribuição da riqueza e da renda;
4. Prioridade central à educação e à formação de recursos humanos, à promoção da cultura, ciência e tecnologia, como chave para ser bem-sucedido num desenvolvimento que se torna, cada vez mais, intensivo em conhecimento.
A partir desse ponto, Ricupero traz à tona a discussão do papel do Estado. Sabemos que o fenômeno da globalização afeta de forma adversa a soberania do Estado-nação. Observa-se uma progressiva diminuição do campo de manobra dentro do qual as autoridades podem tomar decisões sobre matéria de interesse doméstico, independentemente do exterior. Para Ricupero, essas quatro dimensões, citadas anteriormente, devem ser imediatamente enfrentadas e isso só se faz com um Estado protetor e não somente produtor. O autor assevera que (...) não se deve separar artificialmente, como com freqüência ocorre, a política macroeconômica da política social (RICUPERO, 2001:91)
Esse é um dos grandes desafios brasileiros, qual seja, alvejar, formular e aplicar políticas públicas e não esmorecer na luta em fazer do sistema econômico globalizado um sistema menos injusto e desequilibrado .



Matéria: Governo Britânico revela mega-pacote
Jornal: Folha de São de Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Caderno: Dinheiro (B5)

O governo britânico revelou os detalhes de um amplo pacote de 500 bilhões de libras (R$ 1,9 trilhão ou U$ 867 bilhões) para socorrer o sistema bancário do país, mas nem mesmo os analistas sabem se vai ser suficiente ou não.
O que há de positivo no pacote é que ataca três frentes:
1. Estatização parcial do setor, quando o governo comprará até 50 bilhões de libras em ações dos maiores bancos do país.
2. Oferecimento de garantia de até 250 bilhões de libras para novos empréstimos entre bancos.
3. Disponibilização de 200 bilhões de libras para os bancos refinanciarem suas dívidas.

Segundo os críticos em economia, o pacote é maior que o do governo norte-americano, considerando que a economia britânica é apenas um sexto da dos Estados Unidos. Outro aspecto positivo nessa decisão britânica diz respeito à percepção do governo que reconheceu algo que os americanos continuam relutando em admitir: que quando uma crise bancária é séria a esse ponto, faz sentido recapitalizar os bancos comprando ações preferenciais do que seus ativos sem valor. Colocar dinheiro direto nos bancos é uma maneira rápida e transparente de ajudá-los.



Análise crítica baseada no conteúdo do livro

Novamente a matéria traz à tona um ponto crucial no discurso de Ricupero: políticas eficazes, de alcance macroeconômico, mas também social, pois uma crise como essa que está vivendo o sistema financeiro pode desencadear em baixa de produção e desemprego.
Decisões motivadas pelo medo podem ser catastróficas, econômico e socialmente falando. A desregulamentação dos mercados, a crescente volatilidade do capital, a adoção de medidas emergenciais frente às tensões do mercado representam desafios constantes para as economias nacionais, principalmente a dos países emergentes. Os setores afetados por uma crise como essa dependem muito da atuação do BC, da política de exportação e de captação de investimento. Essa preocupação perpassa todo o discurso de Ricupero.

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