sexta-feira, 24 de outubro de 2008

RICUPERO,Rubens.O Brasil e o dilema da globalização.São Paulo:

Editora:Senac, 2001

Capítulos VI (página 102 a 127)

Ricupero, já em tom de conclusão, destaca o êxito sustentado no processo de desenvolvimento dos países asiáticos. Segundo o autor, do primeiro ao último, do Japão à China , todos eles compartilham uma característica : a efetividade em eliminar ou reduzir de modo substancial as formas extremas de pobreza e manutenção de índices de desigualdade geralmente inferiores aos de outras regiões. Ele cita como exemplos Japão, Coréia do Sul e Taiwan e alerta que esses países comprovaram que a distribuição da renda tem muito que ver com o acesso mais igualitário à riqueza, aos bens de produção.

Ricupero cita um estudo da professora Frances Stewart, da Univerdade de Oxford, no qual ela sugere que os países com distribuição de renda menos desigual crescem mais rapidamente e por tempo mais prolongado. A pesquisadora dá algumas explicações econômicas para o fato:

Maior igualdade no acesso a fatores de produção, como a terra ou crédito, gera índices mais altos de produtividade e possibilita , aos pobres, informações para tornar mais eficientes seus investimentos;

igualdade reduz a pobreza e torna possível níveis melhores de nutrição, saúde, educação, o que resulta em força de trabalho mais produtiva e inovadora;

do mesmo modo, o aumento da igualdade permite expandir os mercados domésticos, melhor explorar as economias de escala e, em conseqüência , acelerar a industrialização e o crescimento;

em contraste, a desigualdade está associada à fertilidade mais alta, a pressão demográfica pesando negativamente sobre a possibilidade de elevar o nível de renda per capita e de bem estar.

A intenção de Ricupero, ao comentar esse estudo, é a de chamar a atenção para um ponto crucial quando o assunto é globalização: nas economias asiáticas, o governo criaram toda sorte de mecanismos, antes de tudo tributários, a fim de assegurar que os lucros voltem a ser investidos nos empreendimentos , ao passo que a tradição latino-americana ( e brasileira) é a do conhecido adágio " empresário rico, empresa pobre", isto é, o hábito de tratar a empresa como fonte de recursos para retiradas vultosas, consumo exorbitante do empresário e de sua família, compra de terras, de aviões, de iates, e , muito raramente , como origem de recursos para fortalecer e ampliar a empresa. O Brasil precisa aprender e reter esse conhecimento a fim de que a sua inserção no mundo globalizado deixe de ser um dilema e passe a ser uma experiência positiva.

Outro ponto que Ricupero destaca é a importância do conhecimento. Ele deixa claro que o desenvolvimento é processo complexo de aprendizagem, do qual o elemento econômico é componente importante , mas não exclusivo,

"A evidência dessa proposição impõe-se no momento em que a tecnologia _ quer dizer, o conhecimento _ converteu-se no fator decisivo da economia, muito mais do que o capital, a mão-de-obra ou as riquezas naturais." (RICUPERO, 2001:97

Ricupero assevera que conhecimento no mundo globalizado assume duplo sentido, quais sejam, o de saber produzir e vender bens e serviços de preço e qualidade competitivos , o acervo de conhecimentos técnicos , industriais, comerciais, financeiros que asseguram o sucesso de uma firma ou de uma região econômica; e o de gerir sistemas sociais cada vez mais complexos, quer se trate de uma empresa ou um país. Tudo isso vem junto, é inseparável e passível de ser assimilado pelas economias emergentes.

Dessa perspectiva, Ricupero entende que não é ufanismo asseverar que são razoáveis as chances brasileiras de alcançar uma inserção qualitativamente positivo no mercado globalizado, ainda que duvidoso o ambiente internacional que nos cerca. Ele afirma que, mais do que um problema de acesso , o Brasil tem, sobretudo, um problema de oferta no comércio exterior. Isto é, há mais de quinze anos a pauta exportadora nacional está concentrada em bens intermediários ou de pequeno valor agregado. Nesse sentido, Ricupero adverte que os ingredientes para o sucesso são pura e simplesmente, vontade política, perícia em conceber e aplicar estratégias públicas. Isso não depende de complexas negociações entre mais de cem governos. E ele questiona,

(...)Qual é, acaso, a potência estrangeira que nos proíbe de reformar a legislação tributária? Ou qual obstáculo externo ao controle pela União , dos desmandos espantosos do governos estaduais no leilão de favores irracionais para atrair investidores? Ou quem nos impede de coibir a corrupção e modernizar os procedimentos aduaneiros? ( RICUPERO,2001:112-113)

É possível a um país como o Brasil despontar na economia mundial, desde que procure a diversificação e a abrangência tanto em variedade, riqueza e qualidade de vantagens comparativas, de bens e serviços exportáveis, como mercados de destino. Ele reitera que a qualidade das políticas públicas fará a diferença considerando o dilema do qual partimos: extensão de continente, dimensão já apreciável do mercado interno, potencial longe de exaustão de crescimento para dentro, por meio da exploração de recursos naturais desaproveitados. Reitera também que superar a educação descurada é objetivo irrenunciável , não só por imposição da moral e da justiça , mas porque, sem isso, nunca haveremos de lograr inserção eficaz e sustentável na economia-mundo. Como dica inicial, para políticas públicas eficazes, Ricupero retoma o pensamento de Celso Furtado: o sistema nacional deve ser solidário , a fim de fazer prevalecer, sobre a lógica dos interesses setoriais, os critérios do bem-estar coletivo


Matéria: Acirra temor por recessão e bolsa despenca 10.18%

Jornal: Tribuna de Minas, Quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Caderno: Economia

Novamente as bolsas caem e os economistas se mostram pessimistas. No Brasil uma das causas da queda foi a edição da MP 443 que autorizou a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil a adquirir ações de bancos, seguradoras, entidades abertas de previdência e demais instituições financeiras.

Segundo estudiosos, essa medida do BC arrastou as bolsas para baixo aqui e no exterior e impulsionou a valorização do dólar. A Ibovespa fechou em queda de 10.18% ao 35.069,73, retrocedendo a níveis de 2006.

A crise a cada dia ganha contornos sombrios, é o que alegam os especialistas. Corre-se o risco de uma aceleração na inflação e isso pode reverter parte dos ganhos sociais na América Latina e Caribe, essa questão foi apontada no relatório do FMI. Ainda, segundo o mesmo relatório, a inflação mais elevada põe em risco o crescimento e pode aumentar a pobreza fazendo com a desigualdade social aumente.



ANÁLISE CRÍTICA BASEADA NO CONTEÚDO DO LIVRO


Novamente a crise mundial do mercado financeiro vem ao encontro das preocupações de Ricupero. Como ele já alertava, a falta de política financeira definida nos moldes do mercado globalizado faz com que as medidas paliativas, ainda que a contento, atinja outras áreas.

No caso em questão a área social pode sofrer as conseqüências da crise econômica, uma vez que especialistas prevêem uma desaceleração no crescimento, desemprego e perda de ganhos social na América Latina e Caribe ( isso inclui o Brasil).

Como Ricupero alerta, toda e qualquer medida tem que considerar o bem estar coletivo, que está acima de qualquer interesse econômico, pelo menos deveria estar. Enquanto não se colocar o social à frente dos interesses econômicos, o mundo e não só o Brasil, sofrerá e fará sofrer a população, pois a desigualdade e a pobreza aumentará vertiginosamente.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da Globalização. São Paulo: Editora: Senac, 2001


Capítulos V e VI (página 80 a 102)


Ricupero nestas páginas falará da importância do comércio exterior. O autor entende que o comércio tem um papel dinamizador no mundo globalizado. Nesse sentido, percebe-se que em um extremo encontram-se os países-monstros com cifras consideradas relativamente altas, e noutro, os introvertidos e os extrovertidos. Os EUA, na intensidade comercial externa passaram de 8,41% (1970) para 19,12% (1998). Já a União Européia ostenta cifras assaz distintas conforme se inclua ou não o comércio intra-europeu, seus valores são de 15,57% ( 1970) e 20,99%
(1998). Segundo Ricupero, o contraste destes países com os introvertidos Brasil e Índia e os extrovertidos China e Indonésia é quase chocante. O autor entende que no caso do Brasil há um apreciável potencial não utilizado para a expansão do comércio exterior (Ricupero, 2001:82)
Na explicação dos fatores que concorrem para se verificar o crescimento acelerado ou não, o autor cita um estudo da ONU que argumenta que o mais importante no exame dos resultados de crescimento não é só a orientação favorável às exportações como tal, mas a natureza dessa orientação, o que ele chama de "qualidade da integração " e as oportunidades de comércio, que favorecem uma economia integrada qualitativamente: maior porcentagem de manufaturas nas vendas externas, com valor agregado mais elevado; maior diversidade de exportações; flexibilidade para responder às mudanças na demanda mundial. Assim, ao examinar a atividade aduaneira dos países de crescimento rápido , Ricupero sugere que estes compartilham as características descritas anteriormente. Outras características observáveis na história de sucesso das economias em desenvolvimento são as seguintes:
1. Agricultura: em Hong Kong e Cingapura esse setor produtivo nem aparece. Nos outros países de crescimento rápido, importadores de energia, a produção agrícola aumentou cerca 4%.
2. Coeficiente de investimento: todos os países de crescimento rápido, importadores ou exportadores de energia, tiveram índices de investimento, em relação ao PIB, bem mais elevados que os outros países em desenvolvimento.
3. Poupança interna: a taxa de poupança das economias mais velozes importadoras de energia foi de 21%; a dos exportadores; de 29%, em contraste com os exíguos 11% dos países em desenvolvimento.
4. Taxa de inflação: é uma das diferenças mais notáveis entre unidades de rápido crescimento (11%) e as de crescimento lento ( 35%).
5. Capacidade de importação: diminuiu nos países em desenvolvimento em geral, mas aumentou em 5,5%, em volume, nos de crescimento acelerado.
Ricupero reitera: a meta sempre foi adquirir a capacidade de exportar, o que assegurou às economias exposição suficiente ao choque da competição externa (RICUPERO, 2001:85).
Nessa história das grandes economias, o autor chama-nos ainda a atenção para outro ponto. Segundo ele, há em todas elas um espírito de unidade que se pode identificar em quatro aspectos fundamentais:
1. Um Estado eficaz e competente, dotado de quadros capazes de formular e executar um projeto nacional de desenvolvimento;
2. Um projeto de longo prazo, isto é, de caráter estratégico, que não se resume à correta política macroeconômica, mas abrange componente social e estratégia de competitividade tecnológica e exportadora;
3. Preocupação constante e efetiva com o combate à pobreza, o esforço de diminuir a desigualdade e promover melhor a distribuição da riqueza e da renda;
4. Prioridade central à educação e à formação de recursos humanos, à promoção da cultura, ciência e tecnologia, como chave para ser bem-sucedido num desenvolvimento que se torna, cada vez mais, intensivo em conhecimento.
A partir desse ponto, Ricupero traz à tona a discussão do papel do Estado. Sabemos que o fenômeno da globalização afeta de forma adversa a soberania do Estado-nação. Observa-se uma progressiva diminuição do campo de manobra dentro do qual as autoridades podem tomar decisões sobre matéria de interesse doméstico, independentemente do exterior. Para Ricupero, essas quatro dimensões, citadas anteriormente, devem ser imediatamente enfrentadas e isso só se faz com um Estado protetor e não somente produtor. O autor assevera que (...) não se deve separar artificialmente, como com freqüência ocorre, a política macroeconômica da política social (RICUPERO, 2001:91)
Esse é um dos grandes desafios brasileiros, qual seja, alvejar, formular e aplicar políticas públicas e não esmorecer na luta em fazer do sistema econômico globalizado um sistema menos injusto e desequilibrado .



Matéria: Governo Britânico revela mega-pacote
Jornal: Folha de São de Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Caderno: Dinheiro (B5)

O governo britânico revelou os detalhes de um amplo pacote de 500 bilhões de libras (R$ 1,9 trilhão ou U$ 867 bilhões) para socorrer o sistema bancário do país, mas nem mesmo os analistas sabem se vai ser suficiente ou não.
O que há de positivo no pacote é que ataca três frentes:
1. Estatização parcial do setor, quando o governo comprará até 50 bilhões de libras em ações dos maiores bancos do país.
2. Oferecimento de garantia de até 250 bilhões de libras para novos empréstimos entre bancos.
3. Disponibilização de 200 bilhões de libras para os bancos refinanciarem suas dívidas.

Segundo os críticos em economia, o pacote é maior que o do governo norte-americano, considerando que a economia britânica é apenas um sexto da dos Estados Unidos. Outro aspecto positivo nessa decisão britânica diz respeito à percepção do governo que reconheceu algo que os americanos continuam relutando em admitir: que quando uma crise bancária é séria a esse ponto, faz sentido recapitalizar os bancos comprando ações preferenciais do que seus ativos sem valor. Colocar dinheiro direto nos bancos é uma maneira rápida e transparente de ajudá-los.



Análise crítica baseada no conteúdo do livro

Novamente a matéria traz à tona um ponto crucial no discurso de Ricupero: políticas eficazes, de alcance macroeconômico, mas também social, pois uma crise como essa que está vivendo o sistema financeiro pode desencadear em baixa de produção e desemprego.
Decisões motivadas pelo medo podem ser catastróficas, econômico e socialmente falando. A desregulamentação dos mercados, a crescente volatilidade do capital, a adoção de medidas emergenciais frente às tensões do mercado representam desafios constantes para as economias nacionais, principalmente a dos países emergentes. Os setores afetados por uma crise como essa dependem muito da atuação do BC, da política de exportação e de captação de investimento. Essa preocupação perpassa todo o discurso de Ricupero.